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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

TENTATIVA CORDELÍSTICA DE SISQUENTAR


Nas vorta que o mundo dá
Nas porta e minhas janela
Aberta nem só pro mar
Nas hora que bate o frio
Nas hora em que a mão gela:
Incolhida, tremedera, calafrio…

Ai que sodade do sol lá do Brasil!

Se o mundo num fosse girar
Barcelona num ia ser ela
As neve é mais pra esquiar
Nas hora que bate o frio
E por lá um calor que se pela:
Num trocava o Piauí pelo Rio…

Ai que sodade do solzinho lá do Brasil!

O jeito é num parar
Sisquentar inda mais nela
Já comprei um casaco polar
Pr’essas hora em que bate o tal frio
Para cobrir do juízo às canela:
Uma tal de caleifação, um chá quente e… priu.

Gelando duma vontade danada do sol lá do meu Brasil!

Flávio Carvalho, Barcelona, INVERNO de 2005, menos de 10 graus (até agora…)!

Saudades do Paraíso.


“Nem tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser bacana;
Quero ver o cara sentado na praça, assobiar e chupar cana”
(Benito di Paula).

Tem dias que é danado!
É só acordar e botar um disco de Benito di Paula (que eu nunca imaginei que um dia iria gravar CDs com música de Benito di Paula, mas, felizmente, meu amigo sloveno, Ivan, copiou um para mim) que o chão pode desaparecer debaixo dos seus pés. E nao debaixo dos caracóis dos seus cabelos, de Roberto ou de Caetano…
Deve ser por esse clima de Copa do Mundo que estamos passando.
Essa semana, quando eu ia pegar o metrô, com minha garrafinha de cachaça-com-licor-francês-de-rosas na mochila, rumo a Associaçao Amigos do Brasil em Barcelona, passaram um brasileiro na bicicleta, com a bandeirona verde e amarela, outro gritou pra mim de dentro do ônibus – talvez pelo fato de tanto ele quanto eu irmos com a camisa do Brasil e eu nem sei se ele é brasileiro ou nao, o que aquí nao importa muito…
Todo mundo falando do Brasil, aí vem Benito di Paula mostrando o Brasil pro “meu amigo Charlie Brown” e associando alegria, música e futebol…
É danado!
Se você pensa que nunca ia se embriagar tanto assim com esse clima abestalhado de Copa do Mundo (ao ponto de sair todo animado e abestalhado pelas ruas de Barcelona com uma camisona escrita Brasil no meio do peito), se você é daqueles que nao se emocionam fácil com uma musiquinha qualquer, se você é tao insensível ao ponto de nao entender aquela história da “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá; as aves que aquí gorjeiam nao gorjeiam como lá” (mesmo que jamais soubesse que ave gorjeava, pensando que elas cantavam…), tenta migrar um dia pra ver como é danado esse negócio de sentir saudade.
Paulinho da Viola continua certo: “meu tempo é hoje”.
É engraçado porque a saudade nao vem em tempos certos.
Por exemplo, você nao tem saudades do ano passado, ou do dia em que saiu do Brasil, mas a saudade que bate é da adolescencia, de fatos que você nem costuma lembrar, de gente que você pensava que tinha esquecido até mesmo porque nem conhecia direito…
E deve ser um instinto psicológico freudiano qualquer se aliviar dizendo assim, para você mesmo: “Ah, mas se eu estivesse lá essa saudade tambem poderia ter despertado”! Um consolo. E aí se motiva a ir pra rua e aproveitar o dia. Carpe Diem.
Nessa hora, por exemplo, eu sinto uma enorme vontade de telefonar pro Companheiro Marcos Pereira. Por muitos motivos, além do fato de ser um Companheiro com C maiúsculo, daqueles que a vida só constrói na danada da política. Nas lutas da vida, e em nosso caso no sindicato, e no partido, e pescando nas águas da Praia do Paraíso.
E aí, levando em consideraçao que ele tá aquí mais “pertinho”, por acaso na Alemanha onde o Brasil tá jogando (como sempre começando mal) a Copa, recebendo a visita de outros amigos brasileiros (Carlota e Janda) casado como eu com uma “européia” (felizmente nao muito européias e muito menos europeístas), considerando que ele foi uma visita das mais ilustres que nós tivemos recentemente na nossa “festinha de casamento”, que foi minha primeira grande experiencia de dialogar sobre esse ato de migrar e mirar o Brasil mais de perto, lembrando que ele volta no próximo verao brasileiro para o verde mar de Porto de Galinhas onde vai morar com sua (nossa) Chris e que ele é um Revolucionário que nao esconde seus gostos pelos breguinhas clássicos (e nao tao clássicos, quanto populares - como sua infancia popular das típicas dificuldades socioculturais brasileiras), desaparece até a minha coragem de ligar pra ele – sendo eu frouxo como sou.
Espero que eles entendam.
Escutar o disco de Vital Farias que Alfredo (outro Companheiro) e Ivana trouxeram para Barcelona, Vixe Maria, nem pensar!
Saudade é isso mesmo Paulinho.
No dia que Laura mergulhou na Praia do Paraíso tinha um cocô boiando e ela achou sujíssima aquela praia. Realmente poluída, como eu nunca tinha visto. Afinal, para mim, sempre foi o "meu" paraíso.
Ana, a mae de Laura, adorou o caldinho de peixe “do Paraíso” tanto que de vez em quando ela prepara por aqui na Catalunha, assistindo o vídeo que Josep, o pai de Laura gravou dos peixinhos passeando no meio dos pés de Ana.
Um dia mostraremos a Joao. E levaremos ele para passear com os peixinhos. Pode ser pelos pés de Ana, pode ser pelos pés de Mainha, pode ser pra conhecer a mae de Marcos ou pra conhecer os projetos políticos de preservaçao ambiental do mar de Porto… ele é quem sabe. E, esperamos que nao cague no mar.
A água de Porto de Galinhas é de um verde azulado, sutilmente mais verde que azul.
A água do Mar Mediterrâneo é de um azul esverdeado, sutilmente mais azul que verde. Os Zóios de Laura sao verdes e ponto.

Mas, pra terminar, eu conto um conto que me encanta:
Carlota (nosso Mestre Fotógrafo) me levou pra pescar na Praia do Paraíso.
Nessa minha primeira experiência pesqueira eu fiquei horas com a varinha em paz, observando os peixes roubando a isca do meu anzol, enquanto Carlota pescava todos, até que ele mesmo perguntou porque é que eu nao fisgava os danados, com um golpe de mao.
Até hoje eu nao sei porque.
Eu sei é que eu nao sabia o que fazer.
E que, às vezes, continuo sem saber. E, nao sei porque, às vezes até gosto.
Hoje eu sei que gosto dos peixinhos passeando, do Caldinho de Ana, de Janda e de lembrar de Carlota pescando, com sua garrafinha de cachaça.

A vida é um Paraíso.
A saudade é isso.

O melhor peixe com cerveja foi o da Baía Formosa.
Mas essa, já é uma ooooooutra história…
Peixe é com cerveja; caldinho de peixe é com cachaça – nao esqueçam!

Para Girlayne, minha irmazona, que me ligou hoje pra dizer que, por falta de material médico na saúde pública brasileira, a cirurgia do meu pai foi adiada mais uma vez.
O que isso tem a ver?
“Nem tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser bacana”…


Flávio Carvalho.
Primavera, quase verao de Barcelona. Puigdàlber. Dia de Santo Antonio de 2006.

P.S.: Viva meu Tio Condy e Benito di Paula! E eu que sempre pensei que nunca ia vestir uma camisa do Brasil por aqui “porque eu nao preciso, porque o já Brasil sou eu mesmo, bla bla bla…”…

AMANTS SENSE FRONTERES


“Totes les cartes d’amor són ridícules. No son cartes d’amor si no són ridícules. Jo vull escriure cartes d’amor. Ridícules... Perquè només les persones que mai han escrit cartes d’amor, aquestes sí, són ridícules” (Fernando Pessoa).

Fa uns anys, set mesos i vint-i-un dies que sóc aquí. Per tu. Millor(!): per mi. Vaig posar tota la vida en bosses de plàstic de supermercat, després en caixes de cartró de supermercat. Vaig comprar maletes i dues jaquetes al supermercat. Vaig donar llibres i discos als amics. Vaig vendre el cotxe, la casa i vaig treure els estalvis del banc: tancar els comptes, obrir una nova vida. Havia pensat en explicar-ho tot al control policial d’entrada a la Unió Europea; per obligació, sincerar-me a un poli. No ho vaig fer. Millor així! No caldria introduir un nou concepte en termes d’immigració: immigrant econòmic, exiliat polític, desplaçat de guerra, i ara AMANT SENSE FRONTERES! No cal explicar a “les autoritats” la meva condició d’immigrant amorós. No ho entendrien. No ho voldrien entendre, com passa amb molta altra gent. Pitjor(!):per ells. Vaig arreglar la teva vella bici BH adolescent per explorar millor el teu món. Vaig acceptar la idea que sigui “el meu món, el nostre món”, un dia. Directe cap al Prat. He fet un exercici d’humilitat sense precedents a la meva vida. I m’ha agradat, malgrat tot. Però jo no he nascut un altre cop. No és cert. Tinc trenta sis primaveres al costat. Això si: un altre món ha nascut per mi. Neixes amb mi, altre món, com bessons bivitel•lins que es coneixen des de fa poc! Ens estranyem. Ens estimem. Però d’aquests bessons tu no n’ets la mare (per sort!). Ets LA dona. Més “tu” que “meva” afortunadament. Vaig recuperar l’època d’estudiant: postgraus i activitats per millorar la meva formació professional als ulls dels catalans... Després de vint anys conduint cotxes, vaig aprendre a conduir, per poder conduir aquí. Després d’haver fet un Màster en Ciència Política, vaig tornar-me aquí un mig-ciutadà. Imagina’t dir a aquell “poli”: “no sóc una persona, sóc un cor immigrant, operari de l’amor; deixeu-me passar, si us plau”! Tinc un Número d’Identificació d’Estranger, Carnet de Conduir segons les normatives europees, Carnet de Soci del RACC i del Carrefour, Carnet de la Biblioteca de Catalunya i de la Xarxa de Biblioteques de la Diputació de Barcelona, Compte al Banc i Contribueixo a la Seguretat Social. Sóc de la Colla de Diables. No puc votar. No puc pensar en no treballar: “viure d’amor no omple la panxa”. No puc pensar en no pensar ni en deixar de dir el que vull dir. Vaig posar-me a fer feines diferents de tot el que jo sé fer. Vaig repartir cadires per un concert que no he vist. Vaig collir raïm per un vi que no he begut. Vaig divulgar una activitat en la que no he participat. Vaig inserir dades d’una investigació que no he fet. Vaig fer una memòria d’un projecte que no coneixia. Netejo els carrers de nostre poble que no he embrutat. Vaig assumir prejudicis i enfrontar prejudicis; vaig conèixer i eliminar prejudicis. M’agrada el cava i fins i tot me’l bec després de brindar. Vaig esforçar-me per aprendre català en un centre públic pagat per la gent “d’aquí” i la gent “d’aquí” em parla sempre en castellà.
I no em pregunto per què. Sóc aquí, amb tu, i més amb mi. Sóc més jo que mai. A vegades no entenc aquest món. I com menys l’entenc, més entenc el món d’on vinc. Com més t’entenc a tu, més entenc el que jo voldria ser i menys entenc què faria si no fos aquí, al teu costat. Vaig enamorar-me de tu. Vaig estimar-te. Vaig casar-me amb tu. Vaig veure en Joan i l’Eloi néixer de tu (i de mi). M’he vist renéixer de mi i de tu. I sóc d’aquells que creuen que totes les cartes d’amor, han d’acabar dient allò pel que han estat escrites: “t’estimo”. O sigui, ridícules.
Puigdàlber, 2008-2009.

Una precaria patera, donde caben 18 personas.



Hay 28 seres humanos, siendo 27 europeos y “el capitán”, un marroquí inmigrado a Barcelona, contratado por parte de la tripulación española para guiarlos a la tierra prometida (África).
Ya pasan dos días en un lugar perdido del Mar Mediterráneo. La poca alimentación ahora se resume a beber el agua del mar. Hay mucho sol o mucho frío. Y mucho viento.
Tienen hambre, pero, mucho más voluntad de aterrar en suelo africano, donde esperan saciar todas suyas voluntades materiales.
Tienen en sus mientes las imágenes del Paraíso Africano, retransmitidas por los medios de comunicaciones y por relatos de otros europeos, hablando de escenarios magníficos, y de una calidad de vida sin precedentes en los países donde habían acostumbrados a vivir – del otro lado de aquello grande mar.
Los millones de europeos inmigrados a África no quieren hablar de los problemas.
Pero, al que parece, estos 28 navegantes no llegarán al “Sur del Mundo”.
Dentro de horas estarán muertos, como los del otro barco que avistaran minutos antes, à deriva.
Los periódicos africanos no tendrán espacio para hablar de sus “nacionalidades” y no hablará de los orígenes españoles, franceses, alemanes, ingleses… Solo se reconocerá que vienen de un mundo de desigualdad i de injusticia social.
Pero, se llegarían al continente africano serian discriminados, simplemente por su color de piel clara. En los países receptores, con tradición de distintas orígenes religiosas, tendrían dificultades para abrir sus templos cristianos. Sus hijos tendrían muchas dificultades también con la diversidad lingüística africana e de nada servirían sus estudios de inglés, además de sus lenguas maternas – tampoco sus exóticas habilidades artísticas.
El peor de todo seria adaptarse a las distintas formas de trabajo en África.
También a la situación de no estar empleado en alguna fábrica u oficina.
La tierra que no llegarán a pisar seria la salida para el mundo (lo suyo y de los otros), por la agricultura, por los recursos naturales y por otra forma de relacionarse con el medio ambiente – ya devastado por años de colonialismo y neocolonialismo.
Las necesidades os cambiarían, sin duda.
Pero no tendrán esta oportunidad.
Estarán muertos. Todos. Incluso los dos adolescentes finlandeses, junto al padre.
No sin antes todos pelearse entre si, en medio de este grande mar.
Culpando-se unos a los otros, a sus países, a sus dirigentes políticos, a la xenofobia…
Las organizaciones humanitarias africanas recogerán sus cuerpos sin vida.
Turistas sudamericanos de vacaciones en el Norte de África, harán lo máximo que pueden: sacar fotos e vídeos con sus cámaras de 6 mega-píxeles.
No olvidemos que podrían haber sido salvos por un grande barco de cargas que explotaban recursos naturales al sur de la Península Ibérica y que ha pasado, llevando cargas de uva de distintas especies mediterráneas para abastecimiento de comunidades sibaritas al sur del Sahara. Pero la legislación establecida por las Organizaciones de las Naciones Unidas puede llegar a penalizar duramente los que colaboran (como sea!) con las mafias norteamericanas que intermedian este lucrativo tráfico marítimo de seres humanos.
En toda esta historia dramática hay algo más a ser dicho.
Hay mucho espacio en los desiertos del norte de África para que la mayoría de los inmigrantes ilegales que arriban muertos puedan ser enterrados - de acuerdo con la predominante tradición religiosa cristiana, respectando ceremonias funerales, en cementerios que pueden abrigar decenas de familias. Además, el Vaticano ha enviado misionarios habilitados para realizar estas ceremonias, después de mucha presión de la opinión pública mundial sobre la burocracia de las administraciones africanas. Existe, incluso, un grupo de música Gospel de África del Sur que voluntariamente se presenta en velorios de los ingleses, por vínculos culturales y sociales de muchos años pasados.
En otros lugares del mundo, no hay respecto como este, delante de cuerpos sin vida.

Flávio Cavalho. Brasilero, Emigrado a Barcelona. Primavera de 2006.

BONES FESTES - Boas Festas !



ANTONIO MACHADO (Sevilla, España, 1875; Colliure, Francia – Exilio -, 1939).

Proverbios y cantares.

Nuestras horas son minutos
Cuando esperamos saber,
Y siglos cuando sabemos
Lo que se puede aprender.

¡Ojos que a la luz se abrieron
Un día para, después,
Ciegos tornar a la tierra,
Hartos de mirar sin ver!

Es el mejor de los buenos
Quien sabe que en esta vida
Todo es cuestión de medida:
Un poco más, algo menos…

El hombre es por natura la bestia paradójica,
Un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
“Ya estoy en el secreto – se dijo -, todo es nada”.

No extrañéis, dulces amigos,
Que esté mi frente arrugada:
Yo vivo en paz con los hombres
Y en guerra con mis entrañas.

Todo hombre tiene dos
Batallas que pelear:
En sueños lucha con Dios;
Y despierto, con el mar.
Caminante, son tus huellas
El camino, y nada más;
Caminante, no hay camino,
Se hace el camino al andar.
Al andar se hace camino,
Y al volver la vista atrás
Se ve la senda que nunca
Se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino,
Sino estrellas en la mar.


Todo pasa y todo queda,
Pero lo nuestro es pasar,
Pasar haciendo caminos,
Caminos sobre la mar.

A José Ortega y Gasset.

El ojo que ves no es
Ojo porque tú lo veas;
Es ojo porque te ve.


Para dialogar,
Preguntad primero;
Después… escuchad.

Mas busca en tu espejo al otro,
Al otro que va contigo.

Ese tu Narciso
Ya no se ve en el espejo
Porque es el espejo mismo.

Hoy siempre es todavía.

Nunca traces tu frontera,
Ni cuides de tu perfil;
Todo eso es cosa de fuera.

Busca a tu complementario,
Que marcha siempre contigo,
Y suele ser tu contrario.

Despacito y buena letra:
El hacer las cosas bien
Importa más que el hacerlas.

No es el yo fundamental
Eso que busca el poeta,
Sino el tú esencial.

Los ojos por que suspiras,
Sábelo bien,
Los ojos en que te miras
Son ojos porque te ven.

¿Dijiste media verdad?
Dirán que mientes dos veces
Si dices la otra mitad.

¿Tu verdad? No, la Verdad,
Y ven conmigo a buscarla,
La tuya, guárdatela.

Tengo a mis amigos
En mi soledad;
Cuando estoy con ellos
¡Qué lejos están!

Hombre occidental,
Tu miedo al Oriente,
¿Es miedo a dormir o a despertar?

Contribuiçao de Flávio Carvalho para o Plano Barcelona Interculturalidade, da Prefeitura de Barcelona, em 11/12/2009, entrevista.


FOTO: Flávio Carvalho, amb dos nens participants del Festival RavalS, en taller de “lectura del món” (Freire), a l’any 2006, en dia de partit del Brasil, al Mundial de Futbol – Flávio és el de l’esquerra! Flávio Carvalho, com duas crianças participantes do Festival RavalS, durante oficina de “leitura do mundo” (Freire), em 2006, em dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo – Flávio é o da esquerda!

EM PORTUGUÊS E CATALAN.

Aportació web de Flávio Carvalho: " Oi que aquest Pla BCN Interculturalitat no és una bona proposta d'espai com el que em preguntes? "

http://www.interculturalitat.cat/cat/Participacio/Aportacions/Desembre-09/Aportacio-web-de-Flavio-Carvalho


1. Com valores l’augment de la diversitat socio-cultural dels últims anys a la ciutat?
COMO AVALIAS O AUMENTO DA DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL DOS ÚLTIMOS ANOS NA CIDADE DE BARCELONA?

Em sembla que el significat de la paraula “mediterrani” tenint en compte la posició territorial catalana, respon al que estem vivint, des de fa molts i molts anys. Ara, hi ha una nova globalització, amb nous colonialismes i noves possibilitats d'interculturalitat bones i dolentes, com tot a la vida.

ME PARECE QUE O SIGNIFICACO DA PALAVRA “MEDITERRANEO”, CONSIDERANDO A POSIÇAO TERRITORIAL CATALA, RESPONDE AO QUE ESTAMOS VIVENDO, HÁ MUITOS E MUITOS ANOS. AGORA, HÁ UMA NOVA GLOBALIZAÇAO, COM NOVOS COLONIALISMOS E NOVAS POSSIBILIDADES DE INTERCULTURALIDADES, BOAS E MÁS, COMO TUDO NA VIDA.

2. Quins factors faciliten i quins dificulten les relacions de convivència entre els habitants de Barcelona d’orígens culturals diversos?
QUE FATORES FACILITAM I QUE FATORES DIFICULTAM AS RELAÇOES DE CONVIVENCIA ENTRE OS HABITANTES DE BARCELONA DE ORIGENS CULTURAIS DIVERSAS?

L'experiència històrica d'aquesta “mediterrània” facilitaria la convivència (millor que la “integració” que en bon portuguès diem “entregaçao” com donar-ho tot, a canvi de res). El que dificulta és una interculturalitat només per vendre, i això és cosa de la “multiculturalitat” on podem viure, fins i tot de festes i festes, sense el con-viure: compartir vides i coses, de fet.

A EXPERIÊNCIA HISTÒRICA DESTA “MEDITERRANIA” FACILITARIA A CONVIVÊNCIA (MELHOR QUE A “INTEGRAÇAO”, QUE EM BOM PORTUGUÊS DIZEMOS “ENTREGAÇAO”, COMO DAR TUDO, EM TROCA DE NADA). O QUE DIFICULTA É UMA INTERCULTURALIDADE SOMENTE PARA VENDER, E ISSO É COISA DA “MULTICULTURALIDADE”, ONDE PODEMOS VIVER, ATÉ MESMO DE FESTAS E FESTAS, SEM O COM-VIVER: COMPARTILHAR VIDAS E COISAS, DE FATO.

3. Què faries per facilitar les relacions, el contacte i el coneixement mutu entre els barcelonins i barcelonines de diferents orígens culturals?
QUE FARIAS PARA FACILITAR AS RELAÇOES, O CONTATO E O CONHECIMENTO MÚTUO ENTRE OS BARCELONINOS E BARCELONINAS DE DIFERENTES ORIGENS CULTURAIS?

Donaria veu i vot al tant per cent de la població migrada, amb mitja -ciutadania. O sigui, cosa que no existeix (mitja-ciutadania): o ets ciutadà o no ets.

DARIA VOZ E VOTO AO TANTO POR CENTO DA POPULAÇAO MIGRADA, COM MEIA-CIDADANIA. OU SEJA, COISA QUE NAO EXISTE (MEIA-CIDADANIA): OU ÉS CIDADAO OU NAO ÉS.

4. Quins creus que han de ser els elements comuns que hem de compartir la gent de Barcelona per garantir la cohesió i la convivència a la ciutat?
O QUE CRÊS QUE HAVERIAM DE SER OS ELEMENTOS COMUNS QUE DEVEMOS COMPARTIR, AS PESSOAS DE BARCELONA, PARA GARANTIR A COESAO E A CONVIVÊNCIA NA CIDADE?

Els ciutadans i les ciutadanes de Barcelona haurien de tenir els mateixos drets i deures que els nouvinguts (el cosa què que no passa avui, per exemple, amb el tema del vot, entre d’altres). Això és el bàsic per un bon començament.

OS CIDADAOS E AS CIDADAS DE BARCELONA DEVERIAM TER OS MESMOS DIREITOS E DEVERES QUE OS RECÉM-CHEGADOS (O QUE NAO ACONTECE HOJE, POR EXEMPLO, COM O TEMA DO VOTO, ENTRE OUTROS). ISSO É O BÁSICO PARA UM BOM COMEÇO.

5. Des del teu coneixement i experiència, existeixen espais d’interculturalitat o de convivència intercultural a Barcelona? Pots descriure’ns algun?
DO SEU CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA, EXISTEM ESPAÇOS DE INTERCULTURALIDADE E DE CONVIVÊNCIA INTERCULTURAL A BARCELONA? PODES DESCREVER ALGUM?

Oi que aquest Pla BCN Interculturalitat no és una bona proposta d'espai com el que em preguntes? Jo, per exemple, havia treballat al Casal dels Infants (del Raval), en un projecte que es diu Barri Educador i em sembla una experiència molt positiva.

E ESTE PLANO BARCELONA INTERCULTURALIDADE NAO É UMA BOA PROPOSTA DE ESPAÇO COM O QUE ME ESTÁS PERGUNTANDO? EU, POR EXEMPLO, HAVIA TRABALHADO NUMA ONG CHAMADA CASA DAS CRIANÇAS (“CASAL”, É O NOME DE UM ESPAÇO SOCIOEDUCATIVO, DO RAVAL, BAIRRO COM MAIOR IMIGRAÇAO NA CIDADE), EM UM PROJETO QUE SE CHAMA BAIRRO EDUCADOR E ME PARECE UMA EXPERIÊNCIA MUITO POSITIVA.

CASAL DEL RAVAL, BARRI EDUCADOR: http://www.casaldelraval.org/nframe_projectes.html

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, AS AVES QUE AQUI GORJEIAM..."


18 de dezembro, dia do migrante.
“Voltei, senhores, para minha família após uma longa ausência: sete anos, para ser mais preciso, durante os quais estudei na Europa. Aprendi muito, e muito me escapou, mas isso é uma outra história. O importante é que voltei carregado por uma saudade tremenda de minha gente, naquela pequena aldeia à curva do Nilo. Durante sete anos, senti a falta deles, sonhei com eles e, quando cheguei, foi um momento mágico, pois me encontrei de fato entre eles. Alegraram-se comigo, rodearam-me inquietos e, rapidamente, senti o gelo derreter-se dentro de mim, como um ser enregelado exposto ao sol. Havia perdido, por um tempo, em terras cujos ‘peixes morrem de frio’, essa sensação de aconchego entre os meus. Meus ouvidos estavam acostumados a suas vozes e meus olhos, a suas feições, de tanto nelas pensar durante minha ausência; mesmo assim, a princípio, entre mim e eles houve algo como a neblina, que logo se desfez. No dia seguinte à minha chegada, acordei na mesma cama, no mesmo quarto cujas paredes haviam sido testemunhas da trivialidade de minha vida na infância e na adolescência. Entreguei meus ouvidos ao vento: é um som deveras conhecido por mim, que, em nossa terra, tem um alegre sussurro. O vento quando sopra entre as palmeiras é diferente daquele que passa pelos trigais. Ouvi o murmúrio da rola e, da janela, olhei para a palmeira do nosso quintal e constatei que a vida continua boa. Contemplando o tronco forte, as raízes fincadas na terra e a copa de folhas verdes, senti-me tranquilo. Não tenho mais a sensação de ser uma pena ao vento. Sou como aquela palmeira, uma criatura que tem origem, raiz e objetivo.”

(Tempo de migrar para o Norte, de Tayeb Salih; traduzido do árabe por Safa Abou-Chahla Jubran. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004)

Tayeb Salih ou Al-Tayyib Salih (1929 - 18 de fevereiro de 2009), foi um romancista sudanês. Nascido numa comunidade de pequenos agricultores e professores de religião, migrou à Inglaterra para trabalhar na agricultura. Tendo sido professor numa escola, acabou trabalhando na rádio. Seus livros têm geralmente uma temática política, lidando com a colonização e a perspectiva de gênero. Seu romance “Tempo de migrar para o Norte”, publicado originalmente em 1966, foi declarado em 2001 “o romance árabe mais importante do século XX” pela Academia Literária da Damasco. Foi também censurado pelo governo sudanês no início da década de 1990. Seus trabalhos foram traduzidos do árabe para mais de vinte idiomas.

Enviado por Helion Povoa, do NIEM-RJ.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

JOAO CABRAL DE MELO NETO - CAMPO DE TARRAGONA.

"É a terra de Catalunha
terra de verdes antigos,
penteada de avelã
oliveiras, vinha, trigo"...


"És la terra de Catalunya,
terra de verds antics,
pentinada de avellana
oliveres, vinya, trigo".

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Encontro de Bruxelas. Constituiçao da Rede de Brasileir@s na Europa.

ASSISTIR VÍDEO COM Entrevista Flávio Red de Televisiones Locales de Barcelona

VER ENTREVISTA AQUI - poucos (10?) minutos.

link http://novesvisions.blocs.xtvl.tv/

sobre Entrevista do meu processo de estar com ou sem trabalho (emprego), migrante, em tempos de crise. Com imagens da família, casa, trabalho, pueblo onde vivo etc. Deixem comentários no link, por favor.


link http://novesvisions.blocs.xtvl.tv/

sobre Entrevista del meu procés de estar amb ou sense feina, migrant, en temps de crisi. Amb imatges de la familia, casa, treball, poble on visc etc. Si us plau, deixar comentaris en el blog (en el link). Grácies. Una abraçada!

18 propostas para o 18 de dezembro, dia do migrante.

18 propostas para o 18 de dezembro, dia do migrante.

Hoje, 18 de novembro de 2009, pensei em 18 propostas para o 18 de dezembro, dia do migrante. Quem sabe não concordas em pelo menos uma das dezoito propostas... Oxalá, com todas!

1. No dia 18 de dezembro, dia do imigrante, se vista com as cores da bandeira brasileira (nao importa se ninguém identifica sua mensagem e sim como você se sente!).
2. Visite a página web da Rede de Brasileiros na Europa www.rede-brasileira.eu.
3. Na página web acima, leia o Documento de Barcelona, fruto do 3º Encontro da Rede de Brasileiras e Brasileiros na Europa, e ajude a divulgá-lo.
4. Visite a página web também do Ministério das Relações Exteriores, principalmente o portal consular: www.abe.mre.gov.br.
5. Na página web acima, na seçao Brasileiros no Mundo, leia as atas da 2ª Conferência Brasileiros no Mundo e ajude a divulgá-las.
6. No dia 18, vá ao Consulado e faça sua matrícula (ou registro) consular, de graça e com o compromisso de que a informação será mantida em sigilo pelos consulados – além de servir para contar efetivamente quantos somos, dentre outros direitos que temos e muitos não conhecemos.
7. Leia ou comece a ler um livro sobre o tema da migração, ou especialmente da migração brasileira (se não conhece, peça dicas e sugestões). Se nao, você também pode começar a escrever a sua própria história.
8. Faça o mesmo com algum vídeo ou filme sobre migração ou migração brasileira. E, se puder, convide amigos pra assistir com você.
9. Esteja onde esteja, às 18 horas em ponto do dia 18 de dezembro (hora considerada muito significativa por diversas religiões mundiais) ore, faça uma prece, cante um mantra, um cântico, um ponto, um toque, um hino, mentalize e deixe fluir alguma energia positiva, pense firme na felicidade de algum amigo ou amiga, concentre-se na saúde de algum parente, ou se você não acreditar em nenhuma das alternativas anteriores, exerça um minuto de respeito pelos que crêem (e os que crêem, por respeitar os que não crêem).
10. Como será perto do Natal, doe aquilo que já não mais necessita ou ajude aquele que mais necessita (procure serviços de donativos mais próximos). Exercite o que a tradiçao milenar oriental do Feng Shui (e do Budismo) chama de "exercício de desprendimento".
11. Envie uma remessa de dinheiro, que seja possível, para quem você acha que mais necessita.
12. Elimine definitivamente do seu vocabulário a expressão “ilegal”, quando se referir às pessoas em situação de irregularidade em relação à migração de determinado país (ninguém é ilegal até que se prove o contrário e, no máximo, comete uma infração administrativa imposta por países que não respeitam o direito humano - universal - de migrar).
13. Envie um e-mail para aquela amiga ou amigo que faz tempo com que você não se comunica, nem que seja para lembrar o quanto um abraço amigo é importante, mesmo que de longe.
14. Faça o mesmo do item anterior com uma velha carta depositada nos correios, porque nada substitui a velha sensação de receber uma carta amiga (ou mesmo um cartão de natal), em mãos.
15. Associe-se. Procure uma associação mais próxima de você e dos seus interesses e necessidades. Coletivize-se!
16. Se já faz parte de alguma associação, realize, no dia 18, uma reunião, para celebrar este dia dos migrantes do mundo (conforme atribuído pela ONU, o dia internacional do migrante).
17. Reenvie esta mensagem para a maior quantidade de pessoas que você puder e considerar importante (ocultando os destinatários do e-mail no campo CCO – Com Cópia Oculta, e evintando mensagens indesejadas / spams).
18. Envie uma mensagem para o Presidente da República (veja abaixo como fazer), falando da necessidade de incorporar políticas públicas para brasileiros emigrantes na agenda política do Brasil:
Prezado (a) Senhor (a),
Para o envio de mensagem ao Presidente da República proceda da seguinte forma: acesse o endereço 'web' www.presidencia.gov.br. Nesse site, entre na opção "Presidente". Em seguida, clique no botão "Fale com o Presidente" e depois clique sobre "Escreva sua mensagem". Finalmente, preencha os campos do formulário que se abrirá e clique em "Enviar".
Por questões de segurança, nosso sistema não permite o envio de anexos. Assim, caso necessite remeter algo diferente de sua mensagem de texto, deverá fazê-lo por via postal, para o seguinte endereço:
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto.
70150-900 - Brasília (DF)
Contamos com a sua compreensão.
Gabinete Pessoal do Presidente da República.

18 Grandes Abraços para você!

Flávio Carvalho.
Coletivo Brasil Catalunya.
Barcelona, 18 de novembro de 2009.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Família é o que interessa. O resto nao tem pressa!

Elements de qualitat en la gestió de la formació continuada. EM CATALAO.

Elements de qualitat en la gestió de la formació continuada.
Flávio Carvalho (sociòleg, i educador popular i sindical). Barcelona, primavera del 2007.
Des de una perspectiva situada en la Pedagogia de l’Oprimit, de l’educador Popular brasiler Paulo Freire (amb llarg reconeixement pels moviments socials a nivell internacional) i d’acord amb molts anys d’experiències amb la Política Integral de l’Escola de Formació de la Central Única dels Treballadors (la major central sindical d’Amèrica Llatina), crec que són cinc els elements que atribueixen qualitat a la gestió de la formació continua en el món del treball.
Primer, la “integralitat” en la dimensió política pedagògica, integrant tres elements basics, estructurants i indissociables:
• la qualificació professional o formació ocupacional pel món del treball (no només pel “mercat” de treball, cada vegada més restrictiu als llocs formals tradicionals i precaris), desenvolupant habilitats especifiques i generals tant per les noves demandes, com creant noves dinàmiques i ofertes de treball (J. Subirats) d’acord amb les necessitats legítimes dels treballadors;
• l’educació formal dels treballadors, valorant els espais de les polítiques públiques educatives i relacionant-los amb un nou model d’inclusió social des de l’escola per a joves i adults - i educant amb continguts valoratius de les seves pròpies experiències de vida;
• la formació política (sindical, ciutadana, col•lectiva i personal – aquesta última relacionada amb la pròpia concepció de qualitat de vida de cada persona) en el coneixement, comprensió i transformació de la realitat social on viuen i conviuen.
Segon, aquesta Formació Integral, considera la Construcció Col•lectiva del Coneixement, través de la capacitat crítica, dialògica i creativa de l’esser humà. L’exercici de l’alteritat (la mirada sobre l’altre, demanant i oferint el respecte a la llibertat d’expressió, i consens o dissens d’opinions) en la construcció d’un nou projecte de societat.
En tercer lloc, un repte que ha de ser planificat, sistematitzat i avaluat processalment (com un procés), amb la presència protagonista dels projectes estratègics de societat que representen les institucions dirigents, els educands i els propis educadors.
Quart, la obertura a la inclusió d’una “lectura del món” (Freire) que no oblida totes les dinàmiques d’exclusió i inclusió social en el món contemporani: gènere, joventut, cultures, territorialitats, migracions... tota la plataforma de drets humans, econòmics, socials, culturals i ambientals que es relacionen amb la centralitat ontològica del treball en la construcció d’aquesta i d’una nova societat - no etnocèntrica, no androcèntrica i no antropocèntrica.
Per últim, les dinàmiques constitutives dels grups socioculturals exigeixen metodologies i tècniques imprescindibles, que són presents als quotidians participatius dels moviments socials, de les escoles i les universitats obertes a les societats, col•lectius representants de diversitats culturals, i polítiques en si mateix (significant la paraula política en la seva essència). Per aquestes hi ha les pedagogies de la praxis i de la pregunta, les dinàmiques psicopedagògiques de grups, l’antropologia de les convivències (M. F. Martorell, de Catalunya) i els diaris etnogràfics, els temes generadors, les històries de vida, el teatre de l’oprimit (A. Boal) i una infinitat d’elements que possibiliten la construcció de nous sabers, la interdisciplinarietat dels continguts i la continuïtat de l’aprenentatge formatiu (o com deia un cantautor brasiler: “la bellesa de ser un etern aprenent...”).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

orçamento participativo e planejamento estratégico participativo (EM CATALAO)

PRESSUPOSTOS PARTICIPATIUS I PLANIFICACIÓ ESTRATÈGICA PARTICIPATIVA.

Reptes per la política, oportunitats per la democràcia.


Flávio Carvalho.

Politòleg. Ex Coordinador de Formació de Pressupostos Participatius al Brasil (2003-2004) i ex Consultor del Govern Lula (2004), amb formació al Seminari de Participació Ciutadana de la Fundació Jaume Bofill (2005-2006).


“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 1º, parágrafo único.



Són moltes les veus que enalteixen les virtuts dels Pressupostos Participatius brasilers (Orçamentos Participativos, OP en portuguès), designats com un referent polític de democratització de les societats.

L’intent d’aquest article és explicar-ne la lògica de funcionament, tot fent-ne una anàlisi crítica. No busquem, doncs, reforçar el mite sinó generar un diàleg d’experiències.

Són 3 els factors que han contribuït al reconeixement internacional dels Orçamentos Participativos:


El reconeixement per part d’organismes i esdeveniments polítics com la ONU i el seu Programa de Gestions Urbanes, la Declaració final de la Assemblea Mundial de Ciutats i Autoritats Locals (Habitat II, 1996), i també pel Banc Mundial, i pel Banc Inter-Americà de Desenvolupament, com a recomanacions de bones pràctiques de gestió pública municipal i d’innovació de la planificació urbana1;
La difusió de l’OP al Fòrum Social Mundial2;
L’expansió del PT a totes les regions del Brasil, especialment amb l’elecció del Lula com President de la República Federativa del Brasil i la seva representativitat política a l’Amèrica Llatina, amb repercussió a tot el món – sense comptar que més de 200 ciutats brasileres, no només governades pel PT, han experimentat l’OP.


Els OPs3 són, en síntesis, una forma de democratització de l’elaboració i gestió dels recursos públics (generalment municipals, però també regionals o estatals), amb participació activa dels ciutadans. Un dels millors exemples del que es diu “democràcia participativa”, “democràcia directa” o “radicalització de la democràcia”.

La primera cosa que es mitifica de l’OP és que es tendeix a creure, a priori i des del desconeixement, que es tracta de posar el pressupost municipal íntegrament a la disposició de la ciutadania. El que no es diu és que, sovint, estem parlant d’una petita (tot i que sempre significativa) part de les finances disponibles (0,8%, 1,5%, 8%, 20%...). D’altra banda, hi ha OPs que enlloc de fixar un percentatge sobre el pressupost municipal el fixen sobre la capacitat de recaptació financera de determinats tributs territorials. Sigui com sigui, el que s’ha demostrat a ciutats com Porto Alegre és que la bona acceptació de l’OP per part dels ciutadans4 ha incrementat en més del 40% de recaptació dels impostos urbans en tan sols el segon any de govern del PT5. És a dir, allà on hi ha OP, la ciutadania se sent més motivada a pagar els impostos i disminueix el frau fiscal.

En tot cas i independentment del volum de diners que es posa a participació, el sol fet de parlar d’una part del pressupost municipal el fa més transparent i dóna a conèixer a la ciutadania el total dels recursos públics disponibles.

Quantificar quina part dels Pressupostos municipals es posa efectivament a l’OP és molt complicat, sobretot perquè estem parlant de l’aportació de recursos diversos com els recursos humans, pagats o voluntaris, funcionaris i personal tècnic cedits per temps de contractació determinada (recursos humans en general); a més de la cessió i manteniment d’equipaments públics, instruments de divulgació, etc. Però també perquè es pot parlar de recursos intangibles que tenen valor en sí mateixos, agregats al servei prestat per la gestió pública de l’OP, essent el més evident la formació continuada dels participants a la quotidianitat de l’exercici democràtic. Això que no es mesura i no passa factura, però en canvi aporta transformacions visibles als diferents nivells de participació de les persones que passen quatre anys dedicant bona part de la seva vida (moltes vegades com a voluntaris) al projecte col·lectiu d’implementació d’un OP.

Al marge de la qüestió econòmica, el que destaca cada vegada més als OPs de Brasil és la seva incidència sobre projectes de llarg impacte, en resposta a les noves demandes socials. És a dir, a través dels OPs es busca “invertir les prioritats”, sortir de les polítiques d’obres visibles (el que tradicionalment s’anomena “la pedra”) per passar a donar més importància a projectes innovadors més propers a les polítiques d’atenció a les persones: cultura, promoció d’igualtat d’oportunitats, drets humans etc. (malgrat que gran part dels OPs no aconsegueixen abandonar les obres que donen més vots com el manteniment dels carrers en un país tan deficitari d’infraestructures com és el Brasil).

D’aquesta manera, els OPs esdevenen una oportunitat més de compatibilitzar diferents processos de transformació social. La discussió del “meu carrer” o “meu barri” (la pertinença tancada a una determinada territorialitat) s’articula amb eixos temàtics transversals com gènere, ètnia, discapacitats etc. Alguna cosa així com fer l’ordenança urbanística municipal involucrant nous protagonistes, que mai havien pensat en participar tant activament de la política. Dialogant amb aquests nous participants, els propietaris de fet dels recursos i assegurant: 1) que tinguin coneixement que la política no és només cosa dels polítics; 2) que tinguin responsabilitat sobre l’entrada (recaptació) i sortida (despeses) dels recursos; 3) que tinguin respecte a la més àmplia diversitat de propostes i concepcions que la gent posseeix sobre el que vol per la seva ciutat, immediatament o pel futur.

Sempre amb el repte de la innovació. Per exemple, la més gran despesa pública del govern central (salut) es descentralitza cap als departaments de salut de les províncies i dels ajuntaments. Mitjançant un OP, per posar un exemple concret i real, es pot direccionar part d’aquests recursos cap a un nou projecte d’utilització dels coneixements tradicionals indígenes amb plantes curatives de les comunitats (introduint l’oportunitat d’ampliar la comprensió sobre la salut preventiva, hàbits individuals, qualitat de vida en espais col·lectius etc). Això respon a la intenció que l’OP sigui un espai d’innovació sobre les polítiques, el que no vol dir que el departament de salut (encara en l’exemple anterior) no hagi d’innovar en les seves pròpies pràctiques. Des de l’OP tenim l’oportunitat de reflexionar una mica sobre el què i el com s’està fent i si es pot canviar el que s’està fent, cosa que a vegades costa de fer des de la pràctica quotidiana.

El que normalment no es diu és que això pot generar conflictes insolubles en la gestió de les polítiques públiques. Un problema greu és que tot el que sigui participatiu, innovador o que porti el títol de “ciutadania” es torni objecte de tractament exclusiu de l’OP. Un ghetto de ciutadania, oblidant que els altres espais de construcció de les polítiques locals haurien de ser també espais de participació en sí mateixos. És a dir, els OPs no haurien de córrer el risc d’esdevenir l’ESPAI de participació. L’existència d’un OP no treu que el govern hagi de ser participatiu en la seva essència. Paradoxalment, es pot donar el cas que trobem governs menys democràtics si hi ha l’OP que serveix per posar-se l’etiqueta de “participatiu”. Un govern autoritari amb Pressupostos participatius? I tant que sí...!

En altres paraules, la simple existència d’un OP no lliura un títol de democràtic a cap govern; però l’equació més important és que quant més planificada i participativa sigui la gestió pública municipal, més democràtics poden ser els impactes de les seves polítiques pel conjunt de la ciutadania. I no es pot negar la importància dels OPs per assolir aquests objectius6.



PERÒ, COM ES FA UN OP?


Tot seguit, us presentem de forma senzilla7, com es pot fer un Pressupost Participatiu municipal:


Realitzar una reunió amb l’alcaldessa o l’alcalde, regidores i regidors i els tècnics municipals en general per millorar els coneixements sobre la democràcia participativa (per tal que com a mínim, les persones parlin la mateixa llengua) i definir en quina concepció de govern aquesta experiència pot ser implementada;


Definir el valor d’inversions a l’OP, atorgar responsabilitats sobre l’implementació d’aquest OP i fer un pla de treball;


Fer una reunió de sensibilització amb el teixit social i altres interessats per donar a conèixer l’OP i els motius que porten a voler-lo implementar;


Triar quines metodologies de suport seran utilitzades i elaborar un Reglament Intern de l’OP;


Dissenyar una divisió de la ciutat en micro-regions – ja amb la participació del conjunt de la ciutadania8;


Fer material publicitari i àmplia divulgació a la ciutat;


Fer un llançament públic de l’OP (presentant un diagnòstic sobre l’actual situació socioeconòmica del municipi – construït abans entre el govern - i obert a suggestions per la seva millora);


Fer reunions de sensibilització amb els ciutadans de cada micro-regió, escollint els seus representants (delegats) segons els criteris que constin del Reglament Intern i votant en propostes concretes per millorar aquesta micro-regió9;


Fer reunions temàtiques, obertes a qualsevol veí i dinamitzades per què es parli dels principals problemes i de les prioritats - i votant propostes concretes per millorar aquests punts específics10;


Es fa la presa de possessió dels delegats (i s’aprofita per fer una capacitació més efectiva sobre l’OP i les seves responsabilitats davant de les propostes presentades per la comunitat) i es constitueix un Consell de l’OP, amb un número equitatiu de representants entre els delegats (escollits per aquests) i les persones que fan part o treballen al govern; els que ja posseeixen representació política d’alguna institució o del teixit associatiu poden presentar-se com candidats a delegats, si així ho volen; s’escull, per consens o votació, un President i un Secretari pel Consell11, més una Comissió de Seguiment per acompanyar tot el procés i fiscalitzar la seva implementació efectiva;


El Consell de l’OP (COP) organitza, cada any, un Fòrum de la Ciutat per debatre els seus principals problemes, actualitzar el diagnòstic sobre la ciutat, avaluar l’implementació de l’OP i, amb criteris previs, prioritzar, entre totes les propostes més votades en cada temàtica o micro-regió, quines seran implementades enguany12; el producte principal del Fòrum de la Ciutat és un Pla de Inversions Regionals i Temàtiques.



De manera esquemàtica, això és un exemple de com podria funcionar un OP a Brasil (construït partint d’unes quantes experiències). Ara bé, té sentit parlar d’OPs a Catalunya?



L’intercanvi d’experiències i no la transferència de tecnologia


Per evitar problemes sobre la percepció mítica dels OPs i acceptar, amb respecte, les diferents interpretacions, primer s’ha de contextualitzar la realitat social, cultural i política on es desenvolupen. Això vol dir que es pot fer un procés de participació ciutadana vinculat als Pressupostos públics i a la planificació del govern a qualsevol part del món governat per instàncies democràtiques, sempre que contextualitzem de quins diferents conceptes de democràcia estem parlant. I, sobretot, en quines circumstàncies aquesta democràcia es relaciona amb la realitat social d’aquest territori13.

A més, tal i com s’observa, si estem fent una anàlisi dels OPs (en plural) és perquè no hi ha un model únic i acabat dels OPs al Brasil. És cert que el Partit dels Treballadors (PT) té sistematitzat un “model PT de governar” que serveix per orientar els OPs, però també hi ha aquella trampa que es diu que “en la pràctica tota teoria és diferent”...

Per un país de dimensions continentals com el Brasil14, profundament marcat per la diversitat cultural (i desigualtats regionals) el context d’implementació de determinades polítiques es fa amb una reelaboració quotidiana d’aquestes mateixes polítiques15 – repeteixo: amb claredat d’objectius i estratègies àmpliament pactades.

En tot cas, és molt important aclarir les nostres expectatives, cap a on volem anar i on creiem que es pot arribar.

A vegades s’espera molt dels resultats concrets de tot aquest procés (la construcció d’una plaça, la destinació de tants euros per tal projecte, etc.) i s’oblida que allò important és el seu objectiu transformador cap a la democratització de la societat..

Per això, el que es consolida com el “producte” més important dels OPs és el procés de formació política continuada dels seus protagonistes. Això no té preu ni fàcil valoració, però hi ha un cert consens de què el pas d’uns ciutadans per aquestes experiències els transforma significativament. Molts milloren la seva comprensió de la política i de com n’han fet part, vulguin o no.

Però el que es pot considerar com Formació també obre la possibilitat de “deformació”. Hi ha també (afortunadament en menor quantitat) experiències que empitjoren la percepció de la política que tenen els participants, i això s’ha de dir.

L’objectiu d’aquest procés d’empoderament, de potenciament de les capacitats personals, de foment de la consciència crítica, de formació de lideratges i de sorgiment de nous agents polítics és contribuir a la formació d’una nova ciutadania, millor de la que tenim. Fins i tot per augmentar la seva capacitat d’exigència sobre els governs que hagin impulsat processos participatius com aquests. Perquè quan ja no siguin més govern, tinguin aquesta nova ciutadania al seu costat per augmentar la seva capacitat d’exigència sobre els nous governs que no hagin impulsat processos com aquests. Això no es la política en la seva essència?


Finalment, acabem amb una petita mostra16 de com s’ha fet un Pressupost Participatiu a Catalunya, al municipi de El Figaró-Montmany.


L’any 2003, guanya les eleccions la Candidatura Activa del Figaró (CAF) amb un programa electoral basat en tres grans línies estratègiques: la implicació de la ciutadania en la presa de decisions públiques, la sostenibilitat i la cohesió social.

D’un pressupost municipal de 1.500.000 euros, se n’han posat a participació 100.000€, el que suposa un 6,6% del pressupost municipal obert als pressupostos participatius.

Els Pressupostos Participatius van constar de les següents fases:


1- Presentació del mètode i taller "Imaginem el futur del Figaró 2015". L'objectiu del taller era identificar tres grans línies estratègiques per al municipi (una social, una econòmica i una ambiental) que havien de donar coherència a les propostes de la ciutadania en el marc de l’OP.

2- Fem propostes. En aquesta fase cada ciutadà/na del municipi i cada entitat podien fer dues propostes d’actuació per a l’any 2006. Les propostes es recollien als comerços, a l'Ajuntament o a través de la Internet. També es varen fer propostes a través de l’escola del municipi, treballant conjuntament amb les famílies. Les propostes havien de ser legals, de competència municipal, tècnicament viables, no podien superar els 24.000 euros, no podien ser insostenibles i no podien fomentar l’exclusió social. Es varen recollir 150 propostes.

3- Filtrat i valoració econòmica. En aquesta fase, la Comissió Permanent de Participació Ciutadana, un òrgan plural que coordina tots els processos de participació del municipi, va filtrar les propostes amb els criteris abans esmentats i va agrupar aquelles que eren similars. També en va aprovar la valoració econòmica. Finalment va quedar una butlleta per a votar amb 63 propostes.

4- Votació i criteris de valor afegit. En aquesta fase cada ciutadà/na podia votar fins a 6 de les 63 propostes que s’havien fet. La Comissió Permanent de Participació va fer el recompte (dels 201 votants) i va aplicar els criteris de puntuació de les propostes: la votació (75%), l’adequació a les línies estratègiques (15%), el fet de cobrir una necessitat bàsica (5%), el nombre de persones beneficiades (5%). D’aquesta manera les 63 propostes van ser puntuades entre 0 i 100 punts.

5- Resultats i tancament. En aquesta fase es varen presentar i aprovar per Ple els resultats del procés que va incloure les 10 primeres propostes, que sumaven 100.000 euros, i es va fer una avaluació ciutadana del procés.

L’any 2004 es va dedicar a la construcció participativa del mètode i a la redacció d’una diagnosi participativa del municipi. Els pressupostos participatius van començar l’any 2005 per incorporar resultats al pressupost municipal de l’any 2006.

Van participar-hi 275 persones, gairebé una tercera part de la població del municipi, que té 1.000 habitants.

Segons M. Parés, els pressupostos participatius han “aconseguit uns nivells molt elevats d’implicació de la ciutadania i metodològicament s’ha desenvolupat a partir de la construcció d’un mètode propi i força innovador”.





La Planificació Estratègica Participativa (PEP).


Fins aquí algunes reflexions sobre els pressupostos participatius. Però, encara més important que aquests és la Planificació Estratègica Participativa (PEP), de la qual fa part l’OP. L’últim congrés del Observatori Internacional sobre Democràcia Participativa (OIDP, amb seu a Barcelona i realitzat a Recife – capital de Pernambuco, Brasil), en 2006, ha posat aquest tema com eix principal del debat polític17.

És a dir, el pressupost és només una de les eines necessàries per planificar les actuacions. La participació ciutadana és la forma de democratitzar aquest procés de planificació. Però els Pressupostos Participatius no són un mer mètode de treball, sinó que formen part d’una manera de concebre la política. Especialment després que han esdevingut llei en algunes ciutats brasileres, fet que els ha donat més legitimitat institucional. La innovació de la democràcia participativa es construeix sobre una relació dialogada, tensa però profitosa, amb l’actual democràcia representativa.

El problema és que si hi ha una Regidoria del Pressupost Participatiu absolutament dissociada d’una Regidoria de Planificació, com de fet passa a molts governs municipals brasilers, la primera només pot transversalitzar les diverses polítiques públiques, amb límits pel seu ple desenvolupament. És a dir, no té capacitat per decidir sobre el conjunt de l’estratègia de govern sinó només sobre determinades i reduïdes parcel·les. Ens expliquem.

Si el pressupost participatiu no s’emmarca dins el procés de planificació estratègica, acaba esdevenint només un exercici de gimnàstica democràtica deslligat de la construcció de les polítiques públiques. Si, en canvi, són a dins d’un mateix projecte de Planificació, aleshores sí que hi ha capacitat de vincular les polítiques emergides de la participació ciutadana amb el conjunt de l’acció de govern.

En aquest cas, sí que podem parlar d’innovació i garantia de què la democràcia participativa tingui centralitat en un projecte polític de govern: un “govern participatiu” i no un govern que té un instrument participatiu (el que ja seria molt benvingut, però si es pot fer encara més, perquè no fer-ho?).

Per tractar de les noves i complexes temàtiques hi ha dinàmiques, metodologies i experiències de treball amb la participació ciutadana que poden ajudar molt a l’hora de fer una Planificació Estratègica Participativa amb qualitat.

Per veure com una Planificació Estratègica Participativa articula els conceptes de Seguiment, Formació Continuada dels participants i Avaluació també Continuada (allò que es diu avaluació processual) de la política, us donem, tot seguit, una idea del que pot ser una PEP d’un ajuntament.



1. Diagnosticar la situació inicial de la gestió18


Fer una anàlisi de conjuntura amb participació dels regidors, lideratges comunitaris, tècnics, etc.;
Conèixer i fer pública la situació actual dels actius i passius financers i el total de recursos (materials i immaterials) de la nova gestió;
Problematitzar (identificar i analitzar els principals problemes interns i externs), redimensionant-los com reptes de la nova gestió;
Fer un mapa de la xarxa de relacions institucionals de la gestió pública municipal;
Realitzar una trobada d’expectatives entre a) el que s’espera d’una gestió municipal participativa; b) les condicions inicials dels mecanismes de participació en què es troba la gestió; c) els compromisos polítics que l’equip de govern ha pres, etc.


Planificar


Agrupar les qüestions sortides a l’etapa de diagnòstic i establir criteris per una priorització dels problemes, transformats en reptes;
Fer un llistat d’indicadors que ens ajudin a identificar l’assoliment (o no) dels objectius del govern;
Decidir quina aportació dels recursos públics es posarà per què els objectius prioritaris tinguin caràcter vinculant, és a dir, es pugui garantir la seva concreció en temps determinats;
Sistematitzar (registrar l’experiència del procés de la forma més propera a la vivència dels participants i que sigui més important pels mateixos);
Constituir una comissió de seguiment que doni suport al conjunt dels participants per repensar tots els passos cap als objectius principals del procés de planificació19;


Avaluar


Qualitativa20 i quantitativament;
De forma continuada, o sigui, processual;
Amb cronogrames de pausa, espais de reflexió entre els moments més importants;
Donar publicitat màxima als resultats, fent de la clausura del procés un moment més d’obertura per altres anàlisis i contribucions.



Conclusions


A tall de conclusions, volem fer èmfasi en algunes de les qüestions que han estat comentades al llarg de l’article:


a) Fer un Pressupost Participatiu ni és tan senzill com es pot pensar, a vegades, ni és fa amb només bones intencions. Però, tampoc és “cosa d’un altre món (d’un tercer món)”! No n’hi ha cap impediment per fer-lo a qualsevol lloc del món on hi hagi un mínim de debat i consens sobre l’importància de la democràcia participativa, juntament amb les ganes de practicar-la;


b) Parlar dels Pressupostos amb la ciutadania és un bon començament d’un camí que pot aportar transparència a un govern suposadament democràtic. I parlar dels diners de la gent no deixa de ser una estratègia per seguir parlant d’altres temes.


c) Encara més important que un Pressupost Participatiu és una Planificació Estratègica Participativa de govern, de la que l’OP pot formar part, amb les metodologies anticipadament pactades i adaptades als diversos contextos;


d) Cal que la participació ciutadana sigui un estil de govern i no un subterfugi que no passa de la gimnàstica democràtica. L’existència d’un departament o regidoria de participació no té sentit si acaba aïllat de la resta del govern. La democràcia participativa no pot ser una tendència de moda o una paraula moderna per donar resposta al desgast de la política representativa;


e) El debat entre els interessos concrets i immediats dels territoris i la subjectivitat de les noves demandes socioculturals són la riquesa del procés – juntament amb la formació continuada dels participants, protagonistes d’aquest debat;


f) Les diverses experiències d’OPs (brasilers, catalans i d’altres països) haurien de partir de L’intercanvi com a forma d’assegurar que la crítica i autocrítica siguin constructives de noves aportacions i creativitat sobre els mètodes tradicionals de fer política.

VER DEPOIMENTO EM VÍDEO Óia nóis na Grobo!

Óia nóis na Grobo!

(matéria realizada em Lisboa e Barcelona para o Jornal Hoje sobre a situaçao dos brasileiros no exterior e o Encontro que realizamos em Barcelona, com direito a depoimentos, inclusive o meu, e Hino Nacional - e a minha bandeira de Pernambuco!).

VER DEPOIMENTO EM VÍDEO no link abaixo

http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1234713-16022,00-BRASILEIROS+COMBATEM+O+PRECONCEITO+NA+EUROPA.html

Currículo resumido (em catalao)

Flávio Carvalho

Currículum resumit


Tel: (+34) 93.898.9119 - 654.209.238
Correu Electrònic: brasilcatalunya@gmail.com.
Direcció: Avinguda Catalunya, 20, Puigdàlber (Alt Penedès, BCN – 08797).
Naixement : 27 de febrer de 1971.
NIE: X7113080P. Seguretat Social nº 08 - 1187715657.


Formació


Formació bàsica

• Seminari de Participació Ciutadana de la Fundació Jaume Bofill (2005-2006) i Seminari d’Exclusió i Desigualtats Socials de la Fundació Jaume Bofill (2008).

• Postgrau en Mediació Intercultural de la Universitat de Girona / GRAMC – Grup de Recerca i Actuació amb Minories Culturals i Treballadors Estrangers (2005). Formació complementària sobre Mediació Intercultural a l’Escola Permanent sobre Immigració de la Fundació Pere Ardiaca (2006).

• Sociòleg i antropòleg, amb màster en ciències polítiques a la Universitat Federal de Pernambuco, Brasil (recerca especialitzada en temes de moviments socials, cultura i participació, 2004).


Formació complementària:

• Seminari “Interculturalitat i codesenvolupament en la cooperació al desenvolupament” (Agència Catalana de la Joventut, Agència Catalana de Cooperació al Desenvolupament i Consell Nacional de Joventut de Catalunya, 2009).

• Jornades sobre “Associacionisme i Participació Política dels Immigrants” (Fundació Jaume Bofill, 2009).

• 3º Simposi sobre “Educació i Immigració a Catalunya”, 3º Simposi sobre “l’Estat de l’Educació a Catalunya”, Jornades sobre “Immigració a Catalunya” i Jornades sobre “Condicions de Vida de la Població Immigrada a Catalunya” (Fundació Jaume Bofill, 2007-2008);

• IV Jornades de Reflexió sobre Plans de Desenvolupament Comunitari de la Federació d’Associació de Veïns d’Habitatge Social de Catalunya (FAVIBC, 2007 – presentant l’experiència del Pla de Desenvolupament Comunitari de La Florida, Hospitalet del Llobregat).

• Jornades “Acció Política i Democràcia” (Institut de Govern i Polítiques Públiques – IGOP / UAB, 2007).

• Curs “Com obrim les nostres entitats a la diversitat” (Ajuntament de Vilafranca del Penedès i Fundació Pere Tarrés, 2007);

• Curs “La Convivència Ciutadana i la Interculturalitat” (Ajuntament de Vilafranca del Penedès i Fundació Pere Tarrés, 2007);

• Seminari de Formació “Codesenvolupament – Cooperació Internacional desde les associacions d’immigrants” (Fundació La Caixa i Observatori del Tercer Sector, 2006);

• Curs Multidisciplinar d’Educació per al Desenvolupament (Servei Civil Internacional, 2005);

• Seminari Internacional “La diversitat en el debat entre societat civil i societat política per a la radicalització de la democràcia” (Euralat, Observatori Eurollatinoamericà sobre el desenvolupament democràtic i social, Barcelona, 2005);

Formador en diverses activitats:

• Presentació del documental “À margem do concreto”, sobre l’ocupació d’espais urbans i moviments socials pel dret a la habitatge al Brasil; i presentació del Documental “Miró, Dau al Set i Joao Cabral de Melo Neto”, sobre les influències estètiques i polítiques entre artistes catalans i brasilers als anys 70 (dins del Cicle de Documentals BRAZUCA, a Casa Amèrica Catalunya, promogut per la Federació Catalana de Cineclubs, Barcelona, desembre de 2009).

• “Brasil, país de contrastos – Diversitat sociocultural i ambiental, tot un país patrimoni natural i cultural de la humanitat, segons la UNESCO” (Cicle Altaveu de les Cultures, Club d’Amics de la UNESCO de Barcelona , 2009; i CAUB Manresa / Col•legi d’Economistes de Catalunya, 2010). “El Brasil abans i després de Lula: reptes actuals i oportunitats de futur en la nova geopolítica mundial” (Cicle Altaveu de les Cultures, Club d’Amics de la UNESCO de Barcelona, 2009).

• “Brasil, patrimoni cultural, material i immaterial – les convencions de la UNESCO tenen lloc al país del futur” (Xerrem.cat, Barcelona, 2009).

• “Travessies – Història, Societat i Cultura Brasilera: present, passat i futur del Brasil”. XX Setmana Pedagògica i Cultural (Escola Oficial de Idiomes de la Generalitat de Catalunya, novembre de 2008).

• “Una trobada entre la Pedagogia de l’oprimit, de Paulo Freire i el Teatre de l’oprimit, de Augusto Boal” (IV Trobada Internacional de Teatre i Educació, Pa Tothom, 2008).

• “Cultura, Moviments Socials i la societat brasilera del futur” (Facultat de Ciències Polítiques i Sociologia, Universitat Pompeu Fabra, 2007);

• “Cultura i Moviments Socials, en una potència econòmica i política del Segle 21: Brasil, país del futur” (Facultat de Ciències Polítiques, Universitat Autònoma de Barcelona, 2007);

• “Cultura, Política i Moviments Socials al Brasil: reptes i oportunitats” (Xarxa de Consum Solidari, Sodepau, Barcelona i Guadalajara, 2006);

• “Diversitat Cultural al Brasil” i “La Convenció de la UNESCO per la Diversitat Cultural” (Cicle Altaveu de les Cultures, UNESCO, Barcelona, 2006);

• “Brasil: diversitat sociocultural i ambiental x desigualtats socials” (1ª Setmana Cultural Brasilera de Vilafranca del Penedès, 2006);

• “Brasil, país del futur: Cultura, Participació i Transformació Social” (ONG Diversia i Centre Cívic Pati Llimona, Festival Bahia Fusió Barcelona, 2006).


Experiència de Treball a Catalunya

• Tècnic de Vida Associativa de l’Associació Cooperacció (des de abril/2009 fins l’actualitat). Dinamitzador dels Grups Territorials i Sectorials de l’entitat. Responsable del foment de la participació i enfortiment de la base associativa als territoris.

• Docent en el Seminari de Convivència i Civisme a l’Espai Públic de l’Institut de Seguretat Pública de Catalunya, ISPC / Generalitat de Catalunya, Departament d’Interior, Relacions Institucionals i Participació (abril a juny de 2009).

• Elaboració del Pla Municipal d’Educació i Formació per a la Solidaritat, Pau i Drets Humans de l’Ajuntament de S. Boi del Llobregat (treball realitzat com a consultor per a la Regidoria de Cooperació Internacional, el primer trimestre del 2009).

• Coordinador Territorial pel desenvolupament de diagnòstics comunitaris a Barcelona. Projecte “Temps de Barri, Temps Educatiu Compartit”. Fundació Jaume Bofill, Institut Municipal d’Educació de Barcelona i Regidoria de Nous Usos Socials dels Temps, de l’Ajuntament de Barcelona, 2008.

• Educador Comunitari. Projecte “Barri Educador – Convivència i Ciutadania a l’espai públic”. Casal dels Infants del Raval, Barcelona, 2008.

• Dinamitzador comunitari. Tècnic del Pla de Desenvolupament Comunitari de La Florida, Hospitalet del Llobregat, 2007.

• Responsable de la sistematització del Projecte “Barris del Món: Joventut, Cultura i Participació”. Espai d’Educació Integral del Casc Antic de Barcelona - EI!CA, 2006.

• Dinamitzador en la realització de tallers participatius a la Fundació Catalunya Segle XXI, 2006.

• Investigador Social, col·laborador en la construcció del “Diagnòstic de la Infància i Adolescència al Raval” (per la Fundació Tot Raval, també com Educador Social amb tallers socioculturals al Mercat Obert de la Rambla del Raval), 2005.


Experiència de Treball al Brasil

• Educador amb experiència docent a Instituts i Universitats, corresponent a l’àmbit de les ciències socials. Especialista en educació popular (mètode pedagògic Paulo Freire de educació d’adults, dinamització de grups i de processos socioculturals) i planificació estratègica participativa (ex Coordinador de Planificació Estratègica, Avaluació i Formació del Pressupost Participatiu de la ciutat de Olinda, Pernambuco, Brasil, 2004).

• Consultor del Govern del Brasil (Govern Lula, 2004 – Ministeri del Desenvolupament Agrari i Ministeri de la Cultura), UNESCO (Consultoria sobre les convencions de la UNESCO i el Patrimoni Material i Immaterial Brasiler, 2003), FAO/ONU (Fons Internacional pel Desenvolupament Agrari, FIDA; Institut Interamericà per la Cooperació Agrícola, IICA, 2002), ONGs i moviments socioculturals.

• Educador sociocultural (ex integrant del Nucli d’estudis Paulo Freire de la Universitat Federal de Pernambuco, Brasil, 2002).

• Coordinador de projectes comunitaris (disseny, planificació i gestió) de la ONG Plan Internacional (Brasil, 2001).

• Entrevistador, Supervisor d’anàlisi de dades i Coordinador d’investigació al DIEESE (Departament Intersindical d’Estadístiques i Estudis Socioeconòmics, 2001).

• Coordinador del Projecte Gènere i Desenvolupament, del Centre de les Dones del Cabo / Centro das Mulheres do Cabo, (Brasil, 2001).
Altres

• Formador i conferenciant en llengua catalana, castellana i portuguesa. Format en l’Escola d’Adults Pere Calders (Barcelona, 2006-2007) i apte pel nivell S•3 de la llengua Catalana pel Consorci Nacional de Política Lingüística de Catalunya (2009).

• Membre de la Coordinació del Col•lectiu Brasil Catalunya, de la Xarxa Brasil Europa (participant del Consell Nacional de Migració del Govern del Brasil), de la ONG Studia Fòrum (governació i participació, Portugal i Brasil) i de la Colla de Diables Foc i Soroll.

• Homenatjat pel Ministeri de les Relacions Exteriors del Govern del Brasil, amb la distinció d’Oficial de la Ordem do Rio Branco, pels serveis voluntaris prestats a la comunitat brasilera al món, 2009.

• Convidat del Ministeri de les Relacions Exteriors del Govern del Brasil a 1ª Conferència Brasilers al Món, com a presentador de ponència sobre la “Xarxa de Brasilers al Món” (Rio de Janeiro, Brasil, 2008) i convidat de l’Organització Internacional per a les Migracions i Centre Scalabriniano d’Estudis Migratoris, com a presentador de ponència sobre “Migracions Internacionals i Drets Humans a Europa” (Brasília, Brasil, 2008). Participant de la 2ª Jornada Jurídica i Econòmica Brasil Catalunya (Consulado Geral do Brasil em Barcelona, novembre de 2008).

• Organització i participació d’activitat al Fòrum Social Català 2008: “Roda Oberta de Diàleg sobre Participació Ciutadana”, presentant experiències de Pressupostos Participatius al Brasil i a Catalunya.

• Ex integrant de la Coordinació General i de la Comissió de Cultura del Fòrum Social Nord-est del Brasil (emmarcat al procés del Fòrum Social Mundial, 2005).

• Conductor de vehicles, Categoria B (Direcció General de Transit, Barcelona).

Diplomacia e Cidadania.

Diplomacia e Cidadania.



Flávio Carvalho.



Avaliação de uma experiência pessoal de participação na 1ª Conferência "Brasileiros no Mundo", promovida em julho, no Rio de Janeiro, pelo Ministério das Relações Exteriores do Governo do Brasil.



Em maio deste ano, em Brasília, graças ao Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios, pouco depois de participar de uma interlocução com a Presidência da República como representante da Rede de Brasileiras e Brasileiros no Exterior, o Ministro Gradilone, responsável pelo tratamento dedicado às comunidades brasileiras no exterior, do Ministério das Relações Exteriores, me comunicou pessoalmente a realização de uma grande atividade dedicada ao tema da Emigração Brasileira, previsto para o mês de julho. Dias depois, um dos seus assessores, Sr. Aloysio, também do MRE, iniciou comigo uma série de troca de mensagens eletrônicas estabelecendo o que seria uma frutífera proposta de parceria entre a diplomacia brasileira e a cidadania brasileira no exterior. Ainda hoje não pude agradecer pessoalmente a gentileza deste servidor público (dentre tantos outros da FUNAG e do MRE), que se comunicava comigo quando a noite já se fazia tarde, para informar que novas pessoas haviam feito a sua auto-inscrição, de última hora, e perguntando se ainda havia tempo e interesse (confirmado e correspondido) de comunicar-se com estes.



Até mesmo o nome da atividade, começava a mudar de forma muito significativa, tanto que talvez não tenha sido percebida por muitos. O Seminário para as comunidades brasileiras no exterior passava a se denominar Conferência Brasileiros no Mundo, embora em alguns documentos mantivesse a idéia inicial de Seminário. O que há de significativo nisto?



Em primeiro lugar, sabia-se de interesse público a proposta de conteúdo do Seminário e a informação com a programação foi dialogada e exposta para toda a sociedade. Estava publicada em página na Internet aberta à sociedade e, a partir daqui, o único questionamento que cabe pode ser direcionado a um ou outro consulado que não tenha se esforçado em divulgá-la amplamente.



A participação dos principais protagonistas, os emigrantes, em todo o processo de discussão e de decisão, assegurando uma metodologia coerente com a proposta (dentre pesquisadores, especialistas e autoridades), estava garantida. Em segundo lugar, o MRE disponibilizava apoio de infra-estrutura e comunicação para que as comunidades pudessem se reunir, paralelamente à programação oficial. De posse dos contatos de todos os participantes, convidados ou auto-inscritos, começou um trabalho minucioso de, nas vésperas do Seminário, organizar a reunião da nossa proposta de Rede, no Rio de Janeiro. Reservar sala no mesmo hotel onde estaríamos hospedados, enviar email para todos os participantes que estavam inscritos (todos! Conforme lista de emails enviados, que guardo com carinho) informando da reunião, articular com o apoio da assessoria de imprensa do MRE a divulgação dos nossos documentos, dentre outras tarefas voluntárias que estamos desenvolvendo desde o Encontro de Bruxelas, em novembro passado.



Mas como a semântica também diz muito, em uma das 22 propostas enviadas da Espanha (após um processo de consulta como pode ser feito, via internet – por não dispor de recursos para realizar ligações telefônicas de longo alcance – consulta essa que também guardo com carinho, com muitos retornos e muitos não retornos), havia uma proposta, dentre outras, que ganhava relevância mesmo fora da Espanha. Uma proposta que também havia sido aprovada recentemente na Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores e encaminhada à Conferência (e que não por mero acaso é o Partido que elegeu o atual Presidente da República). O Governo do Brasil possui uma larga experiência de Conferências para a elaboração de políticas públicas que não poderia ser desprezada. Nós tentávamos emendar: conferências nacionais ou internacionais, para que promovam efetivamente a participação das cidadãs e cidadãos tem que estar embasadas em discussões prévias realizadas com as bases, localmente, ou seja, em cada país. E com poder de decisão para influenciar a elaboração de políticas públicas.



Coincidentemente, ou não, um amigo daqui de Barcelona me perguntava: participarás do Seminário ou da Conferência? Para mim, estava claro, tal como exposto em informação oficial da atividade divulgada na Internet para quem quisesse consultar: o Ministério das Relações Exteriores convocava a 1ª Conferência Brasileiros no Mundo, com o primeiro dia dedicado à conceitualização do fenômeno, por parte de acadêmicos e organizações com larga experiência sobre o tema, e o segundo dia seria dedicado ao debate entre as comunidades e Governo, sobre propostas de atuação sobre o fenômeno.



Além disso, creio pessoalmente (como todas as expressões pessoais contidas nesse texto), que a expressão "brasileiros no mundo" corresponde mais à totalidade e relevância do fato: o Brasil parece ainda não saber ou resiste em perceber que há muitos brasileiros "espalhados" em "todo o mundo". Por outro lado, a terminologia "No Exterior", soa como brasileiros que "saíram", passaram para o "lado de fora". Mas onde é esse "lado de fora", o que significa esse "exterior" do Brasil? Destes, quem retorna ao Brasil? Existe um motivo ou um conjunto de explicações para os brasileiros que querem emigrar? Quantos e quem são essas pessoas, porque, como, com quem, quando e para onde emigraram? E as brasileiras emigrantes? Ou talvez seja ainda mais interessante perguntar como as vidas desses cidadãos e cidadãs se encontram atualmente nos países onde vivem? E, lamentavelmente, cabe ainda perguntar em que condições de sobrevivência se encontram algumas destas pessoas?



Todavia, penso que o principal êxito da Conferência havia sido obtido antes do início da programação oficial. Tão histórico quanto à própria realização da Conferência, era o fato inédito de que representantes de comunidades que englobam números ainda dispersos de milhões e milhões de brasileiros em todo o mundo, pela primeira vez se reconheciam, se identificavam, reconheciam e respeitavam as suas diferenças e projetos comuns. E, a partir daqui, passavam a trocar as suas experiências, compartilhando vivências, expectativas e objetivos estratégicos.



Eu já havia antes desfrutado a possibilidade de conhecer exitosos projetos desenvolvidos por associações de Boston, nos Estados Unidos. Mas confesso estar bastante impressionado com o que passei a conhecer de outras experiências brasileiras naquele país. Posso dizer, por exemplo, da quantidade de jornais e revistas publicados por organizações de brasileiros nos Estados Unidos (além de outros tantos países) que quase me fizeram pagar por excesso de bagagem e impressionaram o oficial de imigração na Espanha. E depois de bastante satisfeito com alguns trabalhos desenvolvidos em Boston, foi a vez de conhecer outras dinâmicas de trabalho, como os 26 carros disponibilizados por uma comunidade evangélica de brasileiros na Flórida. Para quem imagina o que representa naquele país ter ou não ter um carro, não precisa explicar mais nada.



Evidentemente, na Conferência, o fruto não poderia ser maior que o intercâmbio de experiências e o diálogo que se inicia. Além do surgimento de novas alianças e projetos, como me alegro de ver a ida da cineasta brasileira na Bélgica para apresentar o seu filme sobre os imigrantes brasileiros naquele país, a convite de organizações de brasileiros emigrados aos Estados Unidos. Penso que já foi muito ter chegado onde penso que estamos chegando, em reuniões de pouquíssimas horas, com pessoas que ainda estavam chegando de longas e cansativas viagens. E com outras tantas pessoas que não puderam participar porque simplesmente não possuíam recursos financeiros para custear as suas próprias despesas de participação. Tenho a convicção de que milhares dessas pessoas se pudessem, se uniriam a nós. É muito importante não esquecer esses milhares, que poderiam ser milhões. Pessoas de origens sociais e culturais tão diversas quanto o próprio Brasil, com diferentes projetos de vida, e agora ainda assumindo conviver com outras tantas culturas diferentes, de cada parte desse mundo cada vez mais controverso, que cada emigrante já traz um pouco dentro de si. Gerenciar um projeto de convivência em rede é lidar com esse componente enorme de diversidade cultural. Um desafio, no mínimo, interessante.



Pessoas estavam presentes e protestavam por não haver sido informados com antecedência desta reunião. Posso já imaginar o protesto dos que até hoje não tiveram conhecimento dela. Outras pessoas não sabiam que haviam acontecido encontros anteriores. E me fazem lembrar que no próximo encontro haverá pessoas que reclamarão não ter tido o privilégio de haver participado anteriormente. Sempre haverá insatisfação, infelizmente ou felizmente. E, como havia dito anteriormente, se não fosse pela boa comunicação com aquele servidor público, eu teria a minha lista de contatos pessoais guardadas para mim e ele seguiria com a lista de inscritos da Conferência guardada para o Ministério onde trabalha. E muitos dos que lá estavam continuariam protestando pelo acesso à informação.



E os brasileiros que vivem numa cidadezinha da Andaluzia, na Espanha, que não possuem computador, muito menos acesso à internet, e que não podem sair de casa para ir ao "locutório" com medo de ser expulsos do país pela polícia de imigração? E o direito desses terem acesso também à informação que trata dos problemas da vida deles?



Em determinado ponto da reunião, quando outra noite também já se fazia tarde, e não conseguíamos sequer chegar a um consenso sobre o conceito de direitos humanos que deveriam ser defendidos, creio que optamos pela atitude mais coerente. Uma Rede de Brasileiras e Brasileiros no Exterior, deve continuar a orientação de seguir organizando-se desde a base, em cada país de cada continente, com cada emigrante disposto a colaborar e representar o segmento social ou cultural ao qual pertence, formalmente ou informalmente, indivíduo ou coletivo, seja qual for a sua religião, raça, opção política ou opção sexual, para ficar apenas em alguns exemplos. Mas uma coisa ainda pode ser certa: seguiremos tentando nos articular e nos encontrar pessoalmente. Por isso mesmo, assumi o desafio de ajudar a construir um próximo encontro, em Barcelona ou onde quer que seja.



Também em plena consciência dos passos necessários a serem dados na construção desse projeto coletivo: objetivos gerais que reforçam nossos objetivos específicos, de pensar globalmente e agir localmente. Conscientes de estarmos construindo o movimento social mais novo que o Brasil conhece: o da sua emigração.



Mesmo com a expectativa de que sempre haverá pessoas que ainda possam não estar acostumadas com o trabalho coletivo, com as dinâmicas de participação cidadã e até mesmo com os diferentes significados da democracia participativa para qualquer um. Participação para mim, por exemplo, também tem a ver com o poder de autonomia para poder decidir sobre a própria vida. Como me formei também em ciência política, isso para mim tem um nome próprio: "política". Mas como muitas pessoas podem confundir com a outra política, ou com "politicagem", deixo pra lá.



Todavia, até os egos mais exaltados, afinal descobrem o caminho mais fácil para o êxito dos empreendimentos coletivos: a união ainda continua fazendo a nossa força. A união forçada, essa sim, sempre será outro problema.



Sobre a Conferência, há mais a dizer.



Chegando naquele salão deslumbrante do Palácio do Itamaraty, havia uma cadeira e uma placa com um nome reservado para mim. Para aumentar a minha surpresa, outorgando-me o título de Doutor. Abaixo do meu nome, me alegrava mais o fato de que havia um nome ao qual tenho me dedicado ultimamente algumas vezes mais que à minha própria vida, tal como agora faço escrevendo esta longa avaliação, às vésperas de minhas férias, em outra noite que já começa a se fazer muito tarde. O nome da Rede de Brasileiras e Brasileiros no Exterior estava convidando-nos a sentarmo-nos todos, por representação, naquela mesa. Evidentemente por representação, devido ao tamanho da mesa e a quantidade de pessoas que ocupavam aquela sala.



Em princípio hesitei em ocupar uma posição naquela mesa tão importante. Sei dos problemas em ter que assumir algumas decisões importantes, sem condições de poder fazer uma consulta ampla a todas as pessoas que tentamos representar. É o que dizem ser a tal responsabilidade da liderança. E há muitos anos, ainda no movimento estudantil, aprendi a não dedicar ingenuidades em relação a isso. Esse trem quando passa sempre passa mais rápido do que estamos esperando. Em poucos segundos, tentava imaginar o nível daquele privilégio na percepção que despertaria em algumas pessoas que se julgariam mais aptas a estar ali sentadas do que eu (ego, vaidade, ciúme e inveja foram palavras que me vieram à cabeça e logo foram substituídas por orgulho, um sentimento mais coletivo que individual).



Por fim, uma pessoa a quem tenho muito apreço quase me obrigou a sentar, percebendo a minha hesitação e o constrangimento que começava a se estabelecer no salão. Hoje agradeço a ela. E me veio à mente o rosto de muitas pessoas que nos acompanham desde novembro em Bruxelas e que mereciam, mas não podiam estar ali, naquele Palácio.



Dani, minha conterrânea. Desculpe-me. Mas naquele momento me lembrei de ti, aí na Áustria, escrevendo um email de motivação e esperança que eu tinha acabado de ler. Naquela cadeira tão difícil, você jamais imaginaria o quanto me ajudava a sentar. Por isso, sentamos juntos. Muitos.



Para ter uma idéia do que significava aquela representação, naquele momento, havia oito veículos de comunicação na saída, esperando por minhas declarações, em nome da mesma Rede que na quase madrugada passada estávamos reunidos tentando ampliar. Uma das primeiras perguntas que me fizeram foi se eu tinha interesse em ser candidato a deputado representando os emigrados europeus, depois da possibilidade de aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC 05/05) que regulariza essa condição no Congresso Nacional. A imprensa nos faz cada pergunta! Entretanto, foi um alívio responder, naquele momento, diante daquelas câmaras, que não tinha esse interesse. E aproveitar para dizer que quando coordenava a formação de um Orçamento Participativo, entendi a compatibilidade entre a democracia representativa (os parlamentos) e a democracia participativa (a cidadania organizada). Mas fazia questão de demonstrar a minha opção estratégica pela segunda, pelo associacionismo cidadão que me conduzia até aqui, inclusive para poder dar essa entrevista.



Há duas fortes propostas de constituição de um Estado Emigrante. Uma que vem da Suíça e outra que foi lançada recentemente em Brasília, através de um livro agradável de ler que eu havia devorado em poucas horas no avião, mas que me deixava com mais dúvidas do que certezas. Em princípio, percebo esse caminho como imprescindível, pela dimensão que ele tem assumido. Por isso tenho pesquisado como esse assunto tem se desenvolvido em outros países como Argentina e Uruguai, dentre outros.



Infelizmente, na proposta aplaudida em Brasília, essa dimensão perpassa muito mais o lado econômico da situação. Pelo pouco conhecimento sobre a proposta da Suíça, que eu mesmo reconheço que deveria dedicar mais tempo (se possuísse) para aprofundar a sua análise, prefiro apoiar a PEC apresentada pelo Senador Cristovam Buarque. Até porque sei que existem outras PECs tramitando (como uma proposta do Senador Marco Maciel, além de outras PECs apresentadas por outros partidos da velha direita brasileira).



Optei por fazer tal como a Conferência caminhou, no sentido de apoiar a PEC 05. E, como não sou defensor do Estado mínimo, creio que o Estado brasileiro deve assumir suas responsabilidades com a cidadania brasileira no exterior. Não concordo com a proposta de que os movimentos sociais ou as ONGs devem assumir o papel do Estado. Interessa-me mais que um Ministério como o MRE utilize toda a sua experiência diplomática para pautar o tema dos direitos humanos quando for tratar de acordos comerciais ou de relações bilaterais ou multilaterais. Não é a toa que a política internacional desse país passou a assumir sua importância no cenário econômico global e tem sido tratada como uma referência em nível mundial. Além disso, não consigo visualizar a emigração brasileira assumindo o papel dos diplomatas nessa questão. Prefiro cobrar para que seja fortalecido o papel da representação diplomática, até mesmo para nos dar o atendimento que merecemos e as negociações dignas com os países onde vivemos. Tanto quanto acredito que estamos preparados para cobrar desses mesmos diplomatas a eficiência nos seus trabalhos, como tem sido feito em diversas circunstâncias. A recente crise dos aeroportos entre a Espanha e o Brasil nos ensinou muito sobre isso. Como sempre temos feito questão de ressaltar nas inúmeras reuniões que tenho participado com o Consulado Geral do Brasil em Barcelona.



Passei algumas horas tardes da noite, lendo todos os documentos mais importantes encaminhados à Conferência. Um deles, que propõe a criação do Estado do Emigrante, afirma textualmente que o primeiro passo é aprovar a PEC 05/05, depois passar a construção desse novo Estado. Foi preciso destacar este ponto, quando o auge da discussão acalorada na Conferência nos forçava a encaminhar uma solução apressada por um abaixo assinado em favor do Estado Emigrante. Antes refletir, até mesmo se for para fortalecer, do que concordar sem conhecer direito. Sem falar na ameaça de que essa proposta possa diminuir todas as outras, pela sua relevância e exuberância.



Também na pressa, quase saíamos da Conferência com a composição de um novo Conselho entre as comunidades e o MRE, que poderia no calor da discussão, sobrepor ou chocar-se com atribuições de um Conselho que já existe e que está em pleno processo de aperfeiçoamento. Um Conselho com experiência acumulada e que tem que ser fortalecido, para nosso interesse imediato: o Conselho Nacional das Migrações. Um Conselho de discussão e elaboração de políticas públicas para a emigração e imigração (juntos, numa perspectiva bidirecional), onde acabamos de pleitear assento e que tem acompanhado todas as nossas discussões, desde a sua participação efetiva no Encontro de Bruxelas.



Trabalhando num Ministério do Governo Lula, aprendi que, no Brasil, quando se diz que as coisas não podem ser feitas da noite ao dia, devemos dar muita importância ao que isso significa. Às vezes, um passo muito necessário para tantas demandas reprimidas em séculos de opressão do povo brasileiro pode significar um retrocesso histórico. E a confiança que eu mesmo depositei nessa nova possibilidade de governo passa pelo reconhecimento de que em quatro ou oito anos, não se pode criar a expectativa de reverter quinhentos anos de dominação do poder econômico oprimindo os canais democráticos de participação popular. Muito menos para reverter duas décadas de emigração em que pouco foi feito efetivamente. Essa Conferência foi, sem dúvida, uma demonstração de vontade política. De querer fazer, o que não é tudo e pode até não ser suficiente. Mas que, na atual circunstância só resta acreditar que o que tem que ser feito, pode ser feito, senão não teria aceitado sequer o convite de vir ao Rio. Nem que fosse pelo mergulho na Praia de Ipanema.



Por isso, as minhas duas primeiras falas na mesa inaugural, perante todos, foram apenas repetições do que eu já havia dito em Bruxelas. Quero ser reconhecido pelo Governo Brasileiro como cidadão, mesmo estando "no exterior", e não como um mero emissor de remessas (até mesmo se eu não envio ou deixo de enviar alguma remessa, essa não é a questão principal). E meia-cidadania não me serve. Só serve se for exercício pleno de cidadania, em condições de votar e ser votado, no Brasil e na Espanha, tal como defendo para qualquer migrante espanhol, por exemplo, que venha morar no Brasil. E assim nos identificamos no conceito que defendo de cidadania universal.



Felizmente, a habilidade impressionante dos condutores da Conferência serviu para fazer com que esta avaliação seja bastante realista. Com o senso crítico em estado de alerta permanente pela oportunidade de estarmos ali reunidos, para mim, assisti a uma aula sobre a arte da diplomacia e saí bastante satisfeito da nossa própria capacidade de sermos protagonistas. Embora deva ressaltar que incredulidade e pessimismo nunca foi o meu ponto forte.



Tanto medo eu tinha que fosse mais teorização acadêmica do que debate de propostas. E terminei saindo de lá com a sensação que queria ter escutado mais dos especialistas, pesquisadores e acadêmicos do que, de fato, não escutei, mas que afinal queria muito ter escutado. Creio que suas exposições foram lamentavelmente prejudicadas pelas "demandas reprimidas" ou pelo imenso "muro das lamentações" de todo aquele grande universo de pessoas presentes. Eu seria capaz de dedicar o meu tempo de discurso para escutar algumas daquelas importantes pessoas que estavam presentes e que não puderam dispor de tempo suficiente para expressar seus anos de dedicação ao tema (muito mais que os meus quatro anos de emigrante, diga-se de passagem).



Por sorte, o meu exercício de dominar as minhas próprias expectativas já me havia alertado de que o tempo deveria ser mais um aliado do que um inimigo. Como havia conversado dias anteriores com o Embaixador que nos representa em Barcelona, e com um companheiro de Milão, o importante seria "centrar fogo" e não sair atirando para qualquer lado ou para todos os lados ao mesmo tempo.



Infelizmente algumas pessoas não perceberam essa mesma estratégia e fizeram questão de aproveitar aqueles quinze minutos de fama para falar do seu próprio umbigo. Em todos esses aprendizados, também acho normal que isso aconteça. E ainda estou aprendendo a respeitar a diversidade de dinâmicas de compreensão sobre a novidade desses assuntos de migração, do qual nunca quis ser especialista, mais do que sou apenas um emigrante.



Escutei atentamente a fala dos representantes diretos do Governo. Foram dois Ministros (o Ministro Amorim e o Ministro Dulci), se comprometendo com as lutas que travamos no dia a dia das comunidades no exterior, inclusive com propostas concretas. Entendi que o Governo necessita de interlocução com todos os setores da sociedade e por isso oferecemos a nossa proposta de Rede como uma possibilidade de diálogo. Atenção: eu escrevi "uma possibilidade", admitindo que não devesse ser a única, nem exclusiva. Mas, entre nós que compomos a Rede, o importante é o nosso esforço para que sejamos melhores. Cada vez mais uma Rede de Brasileiras e Brasileiros no Exterior. Porque depois do Rio, creio que já não somos mais apenas "os da Europa". Sinto-me agora mais próximo de Moab, na Bolívia, de Khaled, no Líbano, sem falar no companheiro de Angola, do Japão, do Canadá, da Austrália, do Paraguai e até mesmo daqueles do Suriname que não puderam estar conosco. Creio que saímos do Rio com a sensação de que essa mensagem ficou bem clara. O diálogo apenas começa a ser estabelecido, a nossa autonomia está na nossa força, os desafios são imensos e as conquistas podem ser enormes. Até porque, lamentavelmente, o pouco que agora for feito será notável depois de mais de vinte anos de debilidades no tema da emigração brasileira.



Não esqueçamos que, para muitos brasileiros, emigrar ainda significa trair, desistir ou abandonar a pátria...



Por isso também no final da Conferência não estive, como não estou, tão preocupado em saber quais serão os poucos representantes de cada continente, presentes na comissão de trabalho que foi constituída. Assim, não tive nenhum problema em propor a indicação do companheiro Marcos, da Holanda, que em princípio havia sido escolhido apenas como relator de grupo, demonstrando capacidade como cada um de nós. Por ser também, acima de tudo e em certo sentido, como "um de nós". Mas até mesmo pelo esforço dele, como de algumas pessoas que trabalharam incansavelmente pelo sucesso da Conferência. E que se não fosse por algumas propostas de encaminhamento para solucionar alguns impasses, como a difícil escolha de representantes entre uma participação tão qualificada entre todos, pode ser ainda estaríamos lá no Itamaraty.



Da mesma forma que proponho (espero que percebam como é muito importante escrever a palavra "proposta" antes de muitas coisas que escrevo) também o companheiro Leonardo, da Itália, participante ativo desde Bruxelas, agora retornado ao Brasil e que, pela sua condição de retornado (um contingente a ser melhor "trabalhado") e pela proximidade territorial com o Governo, pode ajudar na construção desse início de caminho de diálogo. Também para solucionar o impasse de não havermos escolhido um segundo nome dentre os participantes da Europa, além de Marcos. E para ser responsável no cumprimento de prazos que nós mesmos estabelecemos entre todos, mesmo que já no final dos trabalhos.



Com isso, manifesto a minha sincera intenção de não continuar mais assinando documentos como Coordenação Provisória da Rede. Por motivos estritamente pessoais. E por muitas coisas que aconteceram no Rio e que me fizeram reflexionar na volta a Barcelona. Assinarei em baixo, sempre que for necessário assinar o nome da Rede. Sobretudo pela sua agora importância depois dessa 1ª Conferência que tanto esperávamos. E confiando que seguiremos os méritos democráticos pelo qual temos nos pautado desde Bruxelas.



Acredito na importância de uma pessoa e respeito a sua individualidade subjetiva. Mas objetivamente, em "política", sempre fui um defensor do espírito coletivo. Aprendi com o professor Paulo Freire que uma pessoa deve ser tão importante para um projeto coletivo na medida em que fortaleça a autonomia do projeto, até mesmo para que seja um projeto sustentável quando uma ou outra pessoa já não tenha condições de acompanhá-lo. Assim se demonstra que os processos que temos construído partem de projetos coletivos. Sem esquecer-se de que, humanizados, estão construídos por pessoas, antes de tudo.



Finalizo comentando mais duas perguntas, muito significativas, de dois repórteres, ainda na Conferência do Rio.



Um deles me informava que havia outra pessoa (brasileira emigrante, anteriormente entrevistada) com algumas perguntas sobre o que poderia ser esta tal de Rede. Pedi para que o repórter tentasse me reproduzir suas perguntas. Depois de agradecer a ele e de concordar com todas as perguntas que me havia reproduzido, afirmei que felizmente não teria a resposta para muitas delas. Que se já tivesse aquelas respostas não teria enfrentado tantas horas de vôo longe da minha família e teria desistido dessa busca estimulante antes mesmo de iniciá-la. E que por serem perguntas inteligentes e bem elaboradas me faziam identificar-se com aquela pessoa que nem conhecia, mas que perguntando me fazia refletir sobre as nossas próprias práticas e os caminhos a serem construídos, desconstruídos, reconstruídos... Ou seja, se nos unimos nem que seja para elaborar boas perguntas, que valem mais do que algumas mil respostas, está demonstrada a nossa capacidade e a viabilidade de se organizar numa rede de sociabilidade. Esse seria o meu interesse principal quando aceitei o desafio de estar em rede, e o convite para a Conferência: busco pessoas e organizações para tentar articular uniões. Uniões no mínimo, de idéias; no máximo, de utopias.



O outro repórter me perguntou por que a "minha organização" era diferente, se chamava "Coletivo", enquanto as outras se chamavam "associações". Primeiro não tenho nada contra quem opta pelo termo "associação". Segundo porque acreditava muito na força de palavras como "coletivo". Em terceiro lugar, não gostaria que fosse considerada a "minha" organização. E por último, lamentava não ter tempo para apresentar a "nossa" organização para ele. Por isso, lhe passei a nossa carta de apresentação para que, se quisesse, pudesse ler com calma. Estranhou e perguntou por que eu não havia feito ("como tantos outros") a apresentação do Coletivo em plenário, aproveitando enquanto todos estavam atentamente participando, naquele salão deslumbrante.

Concluí respondendo que para mim, o Coletivo é algo mais importante que caminhar sozinho. Por isso, o estamos construindo. E construindo coletivamente. Concluí afirmando que no universo de tantas coletividades ali presentes, uma Rede é uma tentativa de coletivizar o trabalho de tantas organizações que às vezes caminham sozinhas. Tento representar um coletivo, o Coletivo Brasil Catalunya perante a Rede. Naquele importante momento, a Rede é o coletivo mais importante. Mais importante que qualquer organização. Mais importante que o nosso Coletivo Brasil Catalunya, do qual é impossível esquecer, de onde eu venho. E mais impossível ainda esquecer-se de mim, indivíduo coletivo.



Não sei se ele entendeu.

Não sei se eles entenderam.

Não quis apresentar respostas.



Se quisesse, não teria passado tanto tempo escrevendo. Teria feito um resumo de apenas três pontos principais. Não acredito que produziria tanto efeito quanto relatar experiências bastante pessoais.



Por isso, segui ocupando uma vez mais o meu (muito importante) tempo pessoal para construir uma mensagem que dialogasse coletivamente, com as pessoas que quiserem dialogar – até mesmo porque se chegaram até aqui é porque dedicaram parte do seu importante tempo para ler.



Espero que tenham entendido. E gostado, como eu gostei.



Flávio Carvalho.

Coletivo Brasil Catalunya.

Rede de Brasileiras e Brasileiros no Exterior.